sexta-feira, janeiro 11

Saudade da minha "aldeia"

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(Arquivo particular)

O clima chuvoso dos últimos dias torna a rotina mais caseira, mais sombria, mais íntima, e acaba por nos levar a momentos de introspecção. Numa dessas chuvas de verão (em casa, claro!) me vi lembrando da minha terra e das coisas boas que lá deixei. Aí a saudade é inevitável. Então me deu vontade de recitar Fernando Pessoa.

Ó sino da minha aldeia
 

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


Fernando Pessoa

O poema (quadras em redondilha maior ou versos heptassílabos), que tem a gostosa sonoridade das trovas populares, destaca o passado e o espaço, o lugar do poeta, sendo esse lugar, neste poema, a sua interioridade não a sua terra propriamente. Lindo, não!
Fernando Pessoa